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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Review: Sonic Gaiden [REVISADA]


Introdução; 

Em um dia qualquer, estava eu na Sonic Amino dando uma olhada nos posts, e em meio a alguns que não chamaram a minha atenção, eu vi um desafio que era focado em reviews de games... 

E, bem, acho que isso é uma coisa que eu já faço a muito tempo! Logo, decidi participar, e isso que vocês vão ler é o resultado. Então, eu espero que essa review fique boa o suficiente para que vocês saibam mais sobre, e talvez até fiquem com vontade de jogar, Sonic Gaiden, uma Hack-Rom de Sonic 1! As "Hack-Roms", pra quem não conhece, são versões modificadas de jogos feitas por fãs, que geralmente adicionam novos personagens jogáveis, fases, entre diversas coisinhas interessantes. Lembrando que todas as imagens desse texto são de minha autoria e foram tiradas por mim durante a minha jogatina!

Falando um pouco sobre o Gaiden, essa é uma Hack-Rom de Sonic 1 que tem como ideia principal trazer um Sonic 1 "alternativo" (pelo menos foi o que eu percebi enquanto eu jogava), com a adição de um novo personagem jogável, o Mighty The Armadillo, que na época era exclusivo de um joguinho super antigo de arcade.

E, aproveitando o espaço, uma curiosidade legal sobre essa Hack é que ela é uma das poucas Hack-Roms de Sonic que usa a versão Japonesa de Sonic 1 como base, o que é bem interessante pra falar a verdade, mas bem , acho que isso já tá ficando grande demais para uma introdução, então, vamos logo falar sobre as fases!

Fases;

Bem, as fases de Sonic Gaiden variam de totalmente novas para exatamente iguais as de Sonic 1. Todas elas seguem o princípio de criar uma versão "alternativa" dos levels do jogo original, e, apesar de algumas serem exatamente iguais às originais, apenas com mudança do nome (como, por exemplo, a Natural Yard Zone, que é EXATAMENTE igual a Spring Yard Zone, só mudando o nome mesmo), outras são totalmente diferentes da versão original e servem como "fase inédita", como a Blue Grass Zone. Para essa review, eu preparei uma lista das fases do game com uma breve descrição e minha opinião pessoal a respeito de cada uma delas.


Blue Grass Zone;

A Blue Grass Zone é a "versão Sonic Gaiden" da Green Hill, e, na verdade não tem quase nenhuma semelhança com a Green Hill (eu só reparei umas duas sessões da fase que eram semelhantes à Green Hill, e uma delas era o Boss).

O seu level design é muito bem feito, algo mais profissional e bem projetado do que muitas coisas que a Sega tem lançado recentemente. A fase realmente parece ter vindo de Sonic 1, e poderia ter funcionado muito bem como uma fase de introdução de um game retrô da franquia Sonic. 

Aliás, uma curiosidade interessante é que todas as "molas" tiveram Sprites modificados, como você pode ver em uma das imagens acima. 

Magma Castle Zone;

A Magma Castle Zone é Simplesmente uma "Recolor" da Marble Zone, eu sinceramente não notei nenhuma diferença em questão de Level Design...


Bem, só tem uma coisa estranha, eu levei um "Game Over" nessa zona (jogar com touchscreen é foda, alguns de vocês fazem ideia do sufoco) e, bem, a tela meio que "bugou"... 

E, vou fazer algo melhor que explicar, só vejam a imagem abaixo...

O que seriam dos nossos jogos favoritos do ouriço azul sem uns glitches visuais pra nos entreter?


Natural Yard Zone;

A Natural Yard Zone nem se dá ao trabalho de ser um Recolor, ela é EXATAMENTE IDÊNTICA à Spring Yard, tirando as molas modificadas, que são meio que uma característica do jogo.

Então, se eu fosse comentar sobre essa fase eu iria comentar sobre a Spring Yard em si, e acho que isso não cabe a esse post, por isso, vamos falar sobre a próxima logo!


Aquapolis Zone;

A Aquapolis é sem dúvida a fase mais longa e modificada do game inteiro, ela é uma fase quase inédita, com menos de 25% de semelhança à Labirinth Zone. Não me pergunte de onde eu tirei essas porcentagens que uso durante a análise, nem eu sei.


Então, eu amo e odeio essa fase ao mesmo tempo, mas deixa eu explicar! Enquanto ela é sem dúvida a fase mais bem modificada do game, e tem sim partes genuinamente divertidas, a maioria das partes modificadas tem uma dificuldade fora do normal, coisa bem frustrante mesmo.

De qualquer forma, acaba que é a melhor fase do game inteiro, por ter um level design diferenciado e mais único!

Gold Base Zone;

A Gold Base Zone é a única fase desse jogo que é um meio termo, todas as outras variam de quase inteiramente modificada para nenhuma modificação, mas essa é meio que 20% modificada, e, em suas modificações, eu diria que ela é bem competente! 


E, como bônus, eu gostaria de dizer que eu ADOREI o recolor da Gold Base Zone, é simplesmente muito charmoso, e até meio Sonic Colors!

Mechanic Angel Zone;

Assim como a Natural Yard, a Mechanic Angel é simplesmente a Scrap Brain, sem nenhum mudança, tirando o nome, que eu achei muito daora por sinal.

E, enfim, essas são todas as fases de Sonic Gaiden! Elas variam de muito modificadas para nada modificadas, e as vezes chegam em um meio termo. Mas, em geral, as fases que foram modificadas não me decepcionaram e tiveram um level design bom em suas mudanças.


Curiosidades e Links;

Durante o post eu já dei várias curiosidades sobre o Game, mas vou adicionar mais algumas!

- Essa Hack ficou bem famosa na comunidade, pelo simples fato dela ser uma Hack de Sonic 1! (Na época em que foi lançada, o jogo mais Usado para as Hack-Roms era Sonic 2).

- Essa Hack foi criada por duas pessoas, que na comunidade das Hack-Roms são conhecidas como Esrael e Yuski The Dog.

- Essa foi a primeira Hack-Rom que incluiu múltiplos personagens jogáveis em Sonic 1.

Como Bônus, irei incluir dois links muito importantes para vocês conheceram Sonic Gaiden melhor, uma "Playthrough" do jogo feita pelo Canal Razor & Zenon e o link para baixar o game e jogar ele no seu emulador! Ou no Mega Drive mesmo, se quiser passar pelos pequenos perrengues necessários pra isso rolar.

Link para a Sonic Retro, onde você pode baixar o Game: http://info.sonicretro.org/Sonic_Gaiden

Link da Playthrough do Razor & Zenon: https://youtu.be/KNPvwZdgPBw



Considerações Finais;

Sonic Gaiden é um jogo que me deixou bem dividido. Uma parte de mim achou as mudanças existentes legais e bem feitas o suficiente para perdoar o jogo por ter deixado várias fases sem nenhum tipo de modificação, e outra achou que as modificações foram poucas demais e que o jogo não merece muita credibilidade por isso, ou seja, foi díficil fazer uma conclusão decente e dar uma nota para Sonic Gaiden.

Mas, na real eu realmente me diverti com Sonic Gaiden! Eu sei que o jogo foi bem preguiçoso em algumas partes, e que poderia ter sido beeeem melhor com um pouco mais de esforço por parte dos criadores, mas, mesmo assim, eu achei as modificações existentes muito bem feitas, os level designs novos muito bem projetados, e também gostei bastante de ter o Mighty como personagem jogável!

Antes de dar a minha nota para Sonic Gaiden, eu gostaria de listar seus pontos positivos e
negativos:

Pontos positivos;

- As Modificações no level design, apesar de serem poucas, são muito bem feitas e divertidas.

- Algumas "Recolors" são muito bonitas.

- O Mighty como personagem jogável é muito legal!


Pontos negativos;

- A Hack não tem modificações de level design o suficiente, e muitas vezes parece ser preguiçosa.

- Existem alguns bugs meio sérios na Hack.


Tendo em vista tudo isso, a minha nota para Sonic Gaiden é:

7,5


Essa foi a minha review de Sonic Gaiden, espero que tenham gostado dela! E, não se esqueçam de jogar e depois me dizer o que acharam nos comentários! Caso tenham interesse, é claro.




Posfácio;

Você acabou de ler o primeiro texto do meu projeto de revitalizar o que escrevi durante a época em que usava o Amino como plataforma principal de escrita, quando esse blog estava inativo. A review foi originalmente publicada no dia 21 de Abril de 2018, e foi minha primeira análise 100% original por lá, antes dela eu só tinha republicado minha review de Sonic Lost World, que já tinha estreado aqui no blog.

A estrutura é um pouco única em comparação a todas as outras resenhas de videogame que fiz até hoje, isso pelo fato dessa aqui ser parte de um evento lá da comunidade de Sonic no Amino, que se chamava "Evento HR". Ele era focado na análise de Hack-Roms de Sonic e tinha algumas regras de formato específicas, que eu acabei seguindo. Apesar de ser um texto simples e de escrita não muito sofisticada, eu gosto dele por me lembrar com carinho do período e do amor que coloquei por aqui. Inclusive, agora relendo, acho que o Sonic Superstars roubou a ideia da Gold Base, hein...

Falando no evento, eu nem lembro se cheguei a ganhar alguma menção entre os vencedores. Parece que a postagem original dele não existe mais, tá no limbo dos arquivos perdidos da internet, então parece que nunca irei saber. Bem, ao menos, essa aqui vai demorar um pouco mais pra desaparecer. Até a próxima!

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Resenha: A Rainha do Ignoto (Trinca Editorial)

Nesse ano de 2025, como faço toda vez que o evento acontece aqui no Rio de Janeiro, compareci na Bienal do Livro em uma tentativa de estar lá no dia que fosse menos lotado. Eu acho simplesmente estupendo como, não importa quantos anos e quantas Bienais se passem, eu sempre falho nessa aparentemente tão simples tarefa. Me degladiando entre estandes mais empacotados e aqueles que parece que estão ali simplesmente por uma questão de lavagem de dinheiro ou coisa do gênero, admito que me diverti pra caramba, o que eu considero um grande êxito.

Já comentei sobre o evento e minhas outras experiências dentro dele de forma mais extensiva em um vídeo que está disponível no meu canal, e pode ser apreciado pelos fãs do audiovisual aqui, então, pretendo ir direto ao ponto nessa singela introdução do assunto de hoje.

É rotineiro que, em todo encontro desse tipo, me pareça super divertido fazer um esforço para visitar autores e ideias com as quais não tenho familiaridade, acho uma excelente oportunidade de aumentar meu repertório e de, ocasionalmente, adquirir novos vícios. Me chamou atenção, nesse sentido, o estande de uma tal "Trinca Editorial", que era bastante vistoso e focado em livros clássicos, com os quais tenho estado fascinado nos últimos meses. Particularmente, li várias das obras do Marquês de Sade e a linguagem rebuscada que, no catálogo dele, é reunida com algumas das maiores brutalidades que a humanidade pode conceber, despertou em mim um real fascínio. Isso foi o suficiente para que eu entrasse e decidisse dar uma olhada no que ali era oferecido, apesar dos preços não parecerem nada convidativos.

E aí, no meio de um monte de livros pelos quais eu teria que oferecer um pedaço da minha epiderme como entrada para adquirir, estava "A Rainha do Ignoto", de Emília Freitas. Quase 300 páginas, sendo oferecidas por modestos dez reais. Como sou extremamente pão-duro e tenho muito amor ao meu dinheiro, eu, ainda não contente com a promoção, conversei com uma das vendedoras sobre o livro. Me foi informado que era uma ficção científica brasileira pioneira no gênero e que possuía ideias extremamente disruptivas para a época, sendo publicado no final dos 1800 e, de acordo com a simpática vendedora, extremamente bem escrito.

E, foi assim, que conheci o livro mais legal que li esse ano, ao menos até o momento. Isso é o que decidi compartilhar com vocês a respeito dele.


A obra começa lenta e bastante caprichosa, quase como se convidasse os leitores mais apressados a se retirar. O efeito disso vai depender de quem está falando, no meu caso, ocorreu que eu, antes de chegar na marca das cem páginas, tomei algumas pausas na minha leitura, o que pra mim não é usual. Uma boa ajuda que a autora faz para possibilitar a leitura espaçada que muitas vezes a obra pede é a divisão em capítulos pequenos, que são mais de cinquenta nas pouco menos de 280 páginas. Dessa forma, cada um tem a chance de encarar uma leitura densa no seu próprio ritmo, bem diferente dos livros do Marquês, que no geral possuem capítulos infinitos, com excessão dos que são coletâneas de contos.

Emília Freitas pode não ter se tornado um nome tão conhecido quanto deveria para a literatura nacional, agora, é inegável que ela escreve PRA CARALHO. É uma riqueza de vocabulário e composição narrativa tão grande que, muitas vezes, pede a leitura e releitura de seus trechos. Me peguei voltando às mesmas frases algumas vezes e encontrando nelas novos sentidos, e eu amo demais livros que me fazem pensar imensamente, mesmo que as vezes sobre poucas palavras. Em "A Rainha do Ignoto", ao passar dos empecilhos iniciais que seu ritmo e sua escrita "intimidadora" ditam, temos MUITO o que pensar.

O livro tem em sua parte inicial um cenário de interior do Ceará, focado em causos de família, intrigas amorosas e coisas do tipo, e tendo a presença de um elemento oculto que vez ou outra interfere nas histórias que estão sendo contadas. Me encantou a forma como a autora descreve aquele cenário, dando detalhes para eventos religiosos, modismos da região e usando e abusando das figuras de linguagem e dos ditados de época, que são super charmosos na minha opinião. Às vezes me pergunto quando foi que paramos de ter um vocabulário tão divertido na nossa própria língua e passamos a usar 500.000 expressões em inglês por segundo, e, embora saiba vagamente da resposta, ela não deixa de me entristecer.

É apresentado desde o princípio que a desilusão amorosa parece ser o tema favorito de "A Rainha do Ignoto", e é um texto que não tem a menor cerimônia em apresentar estes conflitos da forma mais extrema possível, em muitos dos casos levando a consequências que podem chocar alguns leitores. Na parte do meio, quando somos apresentados à sociedade do "Ignoto" e às explicações de alguns dos mistérios que permeam a obra, começamos a entender melhor o que a autora quer dizer. Temos aqui um livro verdadeiramente revolucionário em muitos aspectos, sendo talvez o maior deles a profunda crítica à posição das mulheres na sociedade brasileira da época. A apresentação do amor e de seus pontos baixos como a destruição da vida de muitas das personagens do livro evidência o papel que Emília Freitas tanto quer criticar, o da mulher como subalterna e como ser que vive à mercê das vontades dos outros para possuir o mínimo de felicidade e realizações.

Ao mesmo tempo, quase que em uma nota tristemente irônica, a autora percebe que, apesar de toda a problemática que a estrutura oferece ela ainda é, naquele momento, a melhor forma de retirar um pouco que seja de felicidade de uma vida que se caracteriza como miserável.


"- Acha então que Helena pôs hoje o pé no primeiro degrau da felicidade?

- Não sei. Julgo apenas que fora do amor não há para a mulher grandeza ou felicidade possível! Julgo também que a mais ambiciosa de ouro e de glória não trocaria por uma coroa de louros a grinalda de flores de laranjeira do dia de seu noivado."


O cerne feminista do livro é totalmente interessante e contemporâneo por não colocar a figura do homem como antagonista, mas sim a construção social que existe encima dela e a forma como a sociedade a trata. No bando do Ignoto, as posições de poder são controladas por mulheres, e suas aventuras em diversos estados do Brasil, que permeam a história de boa parte do livro, se resumem a um acolhimento de almas destruídas e amargadas pela estrutura que à época existia, e muitas vezes do trabalho de reintegração. Esse trabalho não tem o privilégio de ignorar a forma como a sociedade se moldava, e, em diversos momentos, a autora por isso se lamenta.


"Era meu desejo que não amasses nunca, mas como já amas, ouve o conselho de uma amiga à borda da sepultura: não consideres muito este cruel sentimento... zomba dele logo que começar a zombar de ti."


Agora, torna-se oportuno comentar sobre a parte mais interessante de toda a obra, a própria Rainha que aparece no título. Apresentada primeiramente como uma figura quase que mística e intocável, tendo apenas uma pitada melancólica pairando seus ares, durante a leitura, temos um trabalho magnífico do lado humano e flagelado dessa personagem. Ela faz o bem a todos e busca se apresentar como quase que uma grande filantropa, no entanto, em seu particular, confessa que seus atos de bondade são quase que um capricho, um instinto, muitas vezes não possuem bússola moral, e isso a incomoda. Os comentários melancólicos sobre o amor que permeam toda a obra, e que na maioria das vezes são deferidos pela própria Rainha, servem como uma janela para seu passado triste que a leva a realizar suas ações durante o livro, quase como se a mesma se enxergasse em todos que passam pelas dificuldades.

Ela serve como a ponte da ficção com a realidade dentro da história, e faz esse papel de forma maravilhosa sendo, ao mesmo tempo, a melhor personagem de longe. Ainda por cima, muito sobre ela fica a cargo da interpretação do leitor, o que traz uma camada de curiosidade e de espaço pra discussão incrível. Eu vejo a forma como a obra trata a paixão, como um sentimento cruel do qual não se pode escapar e que, principalmente nas mulheres da época, serve como um grilhão, quase que como uma projeção pessoal da autora, isso pela frequência com a qual aparece e pela rigorosidade quase que pessoal na qual é descrito. No entanto, sobre isso, a gente provavelmente nunca vai saber, já que nem mesmo o rosto de Emília Freitas é por nós conhecido. Ficou apenas a arte, o que talvez seria o sonho de um bom escritor.


"Elas remavam céleres entre as vastas gargantas dos rochedos e meteram-se a bordo do Tufão, fronteiro ao Grandolim; mas, quando se preparavam pra fazer fogo, este manobrou com tal perícia que elas não tiveram tempo de evitar a abordagem, e a marujada caiu sobre o convés erguendo as machadinhas com gritos de ameaça; mas, no ponto de desfechar o golpe, atiravam com elas ao chão e caíam nos braços da pretendida inimiga, rindo, tagarelando, cheias de entusiasmo.

É assim a guerra das mulheres."


Ainda, na reta final, encontra-se uma crítica à forma como a religião é tratada como comércio que é tão atual que chega a ser preocupante. A Rainha é caracterizada como pragmática quanto à religiosidade, em um livro onde a autora faz questão de pintar a sociedade brasileira como completamente entrosada com ela, seja para o bem ou para o mal. Se Emília Freitas provavelmente gostaria muito de ter vivido alguns anos depois, para ver tantos de seus anseios serem ao menos mitigados, provavelmente teria ainda muito o que dizer nesse aspecto.

Acho que a única coisa que fica meio esquisita na história toda é a forma como o mundo de fora consegue se infiltrar no universo do Ignoto, que não vou "spoilar" diretamente aqui, mas acho que especificamente o fato de que aquilo nunca foi pela Rainha percebido não combina nem um pouco com a caracterização e com o cuidado que ela aparenta e demonstra ter para com sua tripulação. Mas, diante de tantas questões interessantes aqui apresentadas e de tantas outras que posso não ter aqui escrito ou mesmo não ter reparado, afirmo que temos um clássico que realmente deveria ser mais apreciado e discutido.

E, enquanto vocês pensam se vão querer apreciar ou não, eu os aguardo por aqui em um próximo texto!

domingo, 5 de outubro de 2025

Minha experiência com Pokémon Go (em 2025)


Eu gostaria de acreditar que todos os atuais leitores do blog viveram a febre que foi o lançamento de Pokémon Go, o joguinho de celular onde você caçava os monstrinhos na vida real, tinha incentivos pra caminhar, invadia propriedades privadas atrás daquele Shiny que você não pode perder, recebia oportunidades únicas de entrar para as estatísticas de furto de sua cidade, entre outras coisas divertidas que a vida proporciona. Se você por acaso não se lembra disso, é próvavel que, ao menos no momento em que escrevo, seja novo demais para estar lendo esse blog, o que é um pouco preocupante. Não que tenha algo de muito chocante ou disruptivo por aqui, mas, né, todo aquele papo de proteção da criança na internet e tudo mais...

Aí eu lembro que comecei a escrever aqui no auge dos meus 11 anos, o que meio que me torna um grande hipócrita. Mas, culpem minha versão do passado, a atual está totalmente isenta!!!!

 


Quando o jogo foi lançado, eu fui por todos os lados bombardeado pela vontade de experimentar. Como na minha infância meu principal console portátil foi um PSP, com o 3DS chegando em minhas mãos já na porta da adolescência, minhas experiências com os monstrinhos de bolso vinham de fora dos jogos, com o anime, o TCG, os bonequinhos e tudo mais. Meu primeiro jogo de Pokémon foi o PokéPark Wii, que na época era absolutamente mágico, é o primeiro jogo com o qual tenho memórias de zerar praticamente de uma vez só, eu peguei pra jogar e não queria parar, tava plenamente apaixonado por aqueles minigames e por finalmente ter um mundo onde eu de fato interagia com a série que na vida real me atingia por todos os lados. Eu acho que, como criança, foi até melhor ter pulado os RPGs, que são um pouco mais densos, e ter ido direto para a fronte mais interativa e colorida que a série podia oferecer. Uma coisa que provou essa minha teoria foi que recentemente emprestei pra um priminho de sete anos o meu Pokémon Violet, e ele ficou absolutamente entediado com a pouca interatividade nas lutas e a grande quantidade de texto. E, antes que alguém pense, é claro que cada experiência é individual e que existem crianças que no berço já estão fazendo resenhas do clássico de ficção científica "A Rainha do Ignoto", de Emília Freitas. Talvez eu não fosse uma delas, ele também não é.

Voltando ao lançamento de Pokémon Vá, a minha animação para jogar tinha um grande obstáculo; 

Meu celular simplesmente não rodava o jogo. Não lembro exatamente qual era o problema, na verdade acho que nunca nem fiquei sabendo direito, era algo com o GPS que o game precisava. O telefone que eu tinha era uma porcaria, era uma batata baroa, quase que literalmente. Chorei muito pro meu pai e acabei ganhando um novo, que era de uma marca completamente desconhecida e de procedência bastante duvidosa, mas que rodava Pokémon Go. Naquele momento, não tinha mais nada que eu desejava.

 


Aí, eu joguei até cair. Me lembro de sair com amigos pra caçar os bichinhos, de me frustrar pela pouca quantidade de PokéParadas perto da minha casa e também de andar sem rumo incessantemente pra chocar ovos em busca de um Dratini, que, no meu círculo era o Pokémon mais badalado, já que supostamente sua evolução final era o melhor boneco do jogo na época do lançamento. Admito que nunca conferi essa informação, mas todo mundo acreditava. Eventualmente, eu consegui pegar um, e coloquei ele de companheiro pra poder ter a maior quantidade de doces possível e evoluir logo, mas não cheguei nem perto.

O lance é que a Niantic errou bastante com o jogo nesses primeiros meses. Pelo tamanho que foi a febre e pela mobilização insana que rolou, era de se esperar que a desenvolvedora ia estar a todo vapor procurando formas de manter sua audiência e a expandir, mas meio que não foi o que aconteceu. No lançamento, só estavam disponíveis os Pokémon da primeira geração, e foi uma demora absurda pra começarem a AOS POUCOS liberar monstrinhos de outras, e, além disso, não era apresentada nenhuma novidade relevante, o que, quando passou o vislumbre inicial que todo mundo tinha, acabou dando a impressão que a gente tava jogando uma beta glorificada, e, olhando pra como o jogo é hoje em dia, meio que se provou uma verdade. O resultado não foi outro, todos os meus amigos foram aos poucos parando de jogar, e eu os acompanhei, apesar de ter insistido um pouco mais. É comum em jogos de celular que eles tenham o seu momento e depois esfriem, a gente já conhece essa história com 500 atores diferentes, só que, com o Pokémon Go foi muito rápido, e algumas estatísticas mostram que a experiência não foi individual.

E é óbvio que o jogo não morreu, seria uma ignorância da minha parte vir aqui e afirmar isso, praticamente um exercício de egocentrismo onde eu afirmaria categoricamente que só o que eu enxergo importa, coisa que eu particularmente acho linda, mas que, no momento, não convém. Sua comunidade foi se afunilando, e quem ficou realmente era super apaixonado. A desenvolvedora começou a acordar, e aos poucos ouvíamos notícias de diversas coisinhas novas sendo adicionadas em um game que novamente parecia em movimento. Nesse meio tempo, eu vivi uma vida relativamente feliz onde os Pocket Monsters™ eram parte integrante dela de diversas formas, mas nenhuma era esse joguinho de celular. O tempo passa, e obssessões se tornam memórias, que gradativamente se embaralham na selva do cerébro humano.

 


Corta para o saudoso ano de 2024. Ah, como sinto falta destes singelos tempos!

A imagem acima marcou um dos videojogos que mais me surpreendeu no ano passado, o Pokémon Legends Arceus. Fui um grande fã de Pokémon Sun quando ele foi lançado, inclusive esse blog ainda é casa de uma análise super positiva do game, que eu escrevi em 2017 e tenho certeza que não deve ser tão boa e completa como me lembro. Depois, foi o tempo da vinda do Nintendo NX e seu polêmico Pokémon Sword/Shield, fazendo um alvoroço absurdo na internet pela qualidade dos gráficos e por terem diminuído exponencialmente a Pokédex. Quando joguei, eu admito que achei boa parte das reclamações um grande exagero, mais um caso das rede sociais e do ambiente virtual nada saúdavel da modernidade tornando as coisas muito mais sérias e problemáticas do que elas de fato deveriam ser. Sword/Shield não é um grande jogo, por mim não entra nem de perto nos melhores da franquia e também foi muito modesto em seus esforços para fazer algo diferente, no entanto, ele tá longe de ser uma porcaria, na verdade, é bastante divertido. Tem bons personagens, muitos dos novos monstrinhos são legais e o Dynamax, apesar de parecer bobo, ficou bastante maneiro na gameplay e posteriormente mostrou que veio pra ficar na franquia.

Não obstante, é inegável que não ia rolar ficar jogando seguro com jogos como esse sem evoluir com as gerações. Pokémon é um gigante, mas ninguém é imortal, nem pessoas e nem conceitos, há de se provar. Legends Arceus veio como a inovação que a franquia precisava, com um mundo aberto expansivo e interativo, história mais elaborada e que mexe com o rico background dos monstrinhos e mudanças na gameplay que deixam os jogos mais próximos do público moderno sem o afastar do que a consagrou. Foi o primeiro jogo da franquia que realmente me incentivou a completar a PokéDex, e passei mais horas do que gostaria de admitir correndo pelos seus campos de grama. É claro que alguns problemas continuam, principalmente em relação aos gráficos e a performance, mas, em meu ponto de vista, o passo mais importante foi dado.

E, é aí que entra o Pokémon Go de novo, e chegamos ao que simultaneamente é a parte final do meu texto e sua parte principal.

 

 

A verdade é que pegar todos os monstrinhos no Legends Arceus não é tão intuitivo quanto pode parecer. Em alguns específicos, requer um pouco de sorte e estar no lugar certo na hora certa, o que admito que não me agrada tanto. Sou jogador de Xenoverse 2, eu sei bem como ter que ficar repetindo coisas à exaustão pra pegar aquele item que você precisa pode ser mais cansativo do que assistir a um Maricá Vs Boa Vista na Série D do Brasileirão. Pensando em poupar meu tempo, me lembrei que o Pokémon Go existe.

O jogo permite que eu transfira meus monstrinhos para os games de console, o que poderia me ajudar. Eu não lembrava exatamente do que eu tinha nele, mas lembrava que tinha bastante coisa, e poderia rolar de eu achar algo que me ajudaria no Arceus. Eu baixei o jogo de novo simplesmente com essa intenção, sem nenhuma vontade de voltar a jogar regularmente ou de estar em uma madrugada escrevendo um texto sobre ele. Como a vida é engraçada...

Me deparei com uma evolução absurda. Agora com todas as gerações disponíveis, com elementos de todos os games da franquia e com mais que o triplo das PokéParadas e dos ginásios que existiam na época que parei. Era como reencontrar um velho amigo e ver que, enquanto você sabia que ele tinha mudado de vida, ele na verdade estava BEM melhor do que você sequer poderia imaginar. Comecei a pegar novos monstrinhos, me envolver nas batalhas com a Equipe Rocket e no online, e, rapidamente, eu estava de novo preso naquele mundo. Hoje eu tenho bem mais liberdade, saio bastante de casa, frequento diversos lugares e, com o Pokémon Go, o mundo virou meu playground. Eu de repente passava em uma igrejinha na qual nunca prestei muita atenção e ela se transformava em um grande ponto de batalhas onde eu competia por território com jogadores próximos de mim, onde eu me degladiava para ter o domínio da minha área e derrotar os times adversários. Um belo dia, peguei um Shiny pela primeira vez em anos, e me lembrei da adrenalina louca e gostosa de colecionar raridades e de não saber o que te aguarda quando você clica em um bichinho na tela.



 

Nesse ponto, eu decidi colocar meu código de amizade no Twitter, pra ver se alguém me adicionava e eu poderia novamente compartilhar a alegria de jogar com outros. De repente, eu tô recebendo presentes das Filipinas, depois da Argentina, depois da Espanha...

Cara, o seu dia a dia fica extremamente colorido e divertido quando você tem a oportunidade de trocar pontos turísticos com pessoas de outros lugares dessa forma, como se um fosse conhecendo a realidade do outro, como se meus olhos se abrissem para cotidianos que eu nunca vivi e talvez nunca vá viver. Essa sensação de que o mundo é divertido e de que nele está escondida uma gama de possibilidades que você só vai ter o prazer de descobrir se decidir instalar um aplicativo de bichinhos virtuais bobos é SENSACIONAL! Ela é MUITO gostosa, extremamente prazerosa. E, enquanto naquele início você tinha o vislumbre mas praticamente não tinha conteúdo, agora você tem conteúdo até dizer chega, bastante coisa pra fazer e uma Niantic preocupada em te manter ativo, tem inclusive uma super atualização vindo aí e sempre tá rolando algum evento.


 

Quando fiz, no meio desse ano, minha viagem pela Holanda, Portugal e Finlândia, com a qual quem acompanha meu canal e minhas redes já está familiar, o jogo se tornou ainda mais prazeroso. Eu literalmente descia em uma cidade aleatória e ia descobrindo os pontos turísticos e as coisas legais por meio do jogo, o Pokémon Go se tornou meu guia pelo mundo, e o mundo era infinitamente mais divertido com ele. Sinceramente, em meio ao cotidiano completamente destruidor que a sociedade atual faz de tudo para nos impor, tornar momentos pequenos divertidos é essencial, e nisso esse jogo ficou craque. Foi assim que, em pleno 2025, eu comprei até passe no jogo e hoje abro ele todo dia pelo menos um pouquinho, mesmo de volta ao Brasil.

É um absoluto deleite lembrar que, muitas vezes, nossa alegria de hoje está em algo que deixamos no passado. A vida é feita de momentos que, mesmo que pareçam isolados, se entrelaçam de forma deliciosa quando paramos pra pensar cuidadosamente neles.

Obrigado pela atenção, e vejo você por aqui novamente em breve!