Desde que eu comecei a me acostumar com a leitura digital, primeiro pelo meu celular e depois pelo tablet que comprei uns anos atrás, meu volume de leitura aumentou absurdamente. Por um lado isso foi excelente, já que me garantiu um aumento de repertório absurdo, mas, por outro, me encheu com uma quantidade absurda de pendências e de obras em andamento com as quais estou atrasado ou leituras paradas há anos na minha lista de desejos, tanto de livros quanto de mangás.
Só que, hoje, o assunto são os gibis descoloridos japoneses. A ideia é comentar brevemente todas as leituras que terminei no mês passado, dando opiniões e conversando um pouco com vocês. Sou fã desse tipo de texto mais livre e sem formatos engessados, na verdade, é assim que quero escrever nesse blog desde que voltei à ativa, então assim será. Por acaso, em outubro eu li bastante coisa interessante, então acredito que vocês vão curtir a seleção que tenho aqui. Só não quero que pensem que vai ter um texto assim todo mês, eu a essa altura do campeonato tenho terror a me comprometer com postagens periódicas. Traduzindo: vou fazer isso nos meses em que eu tiver vontade.
Vamos começar?
Captain Tsubasa (1981 a 1988 - 37 Volumes - Weekly Shounen Jump)
E já começo com um clássico absurdo. Conhecido pelo pessoal da velha guarda como "Super Campeões", Captain Tsubasa é um clássico dos mangás de esporte e teve papel importantíssimo na popularização do esporte dentro do Japão, que na época em que a obra foi publicada pela primeira vez nem sequer possuía uma liga profissional futebolística. Se hoje a gente tem a criançada na internet enchendo o saco falando bem e mal dos exageros (divertidíssimos) de Blue Lock, temos um autor a agradecer!
Essa é aquele tipo de leitura que sempre esteve na minha lista, pela importância histórica, mas que nunca havia aparecido um momento oportuno para começar. No entanto, quando comprei meu tablet e vi que a obra estava disponível em espanhol no Mangá Plus, decidi que iria unir o meu estudo hispanohablante com um pouco de diversão, e foi uma excelente decisão. Captain Tsubasa é um mangá extremamente divertido, de sangue quente, cheio das jogadas mais absurdas possíveis e que leva a amizade e o companheirismo ao seu auge, como os bons gibis de sua época faziam.
É jogador subindo em cima do gol pra defender jogadas, é goleiro que usa golpe de karatê pra segurar as jogadas adversárias, é bola batendo no travessão e estourando, e por aí vai. Sem medo nenhum de ser ridículo ou de levar as "regras" do esporte até a última consequência, é um gibizinho que conta histórias sempre cheias de energia e que te deixam grudado na leitura. Perdi a conta de quantos discursos sobre como o futebol e a amizade são importantes li nesse mangá, e em todos eu estava sorrindo pra caralho. Foi uma leitura que me divertiu imensamente.
Obviamente não é livre de defeitos, particularmente acho que pode ser bastante repetitivo se lido de uma vez só, coisa que eu felizmente não fiz. E também recomendo que vocês não façam se forem pegar, pausas são bem saudáveis nesse tipo de obra. Ah, e também é um mangá extremamente machista, até mesmo pra sua época, e o fato do autor querer desnecessariamente adicionar romance na obra certamente não ajuda nada nisso. De qualquer forma, eu aproveitei muito mais do que pensava, e recomendo a leitura.
Yattara (2024 a 2025 - 4 Volumes - Jump+)
Yattara é pra lá de interessante, esse é um que eu gosto de comentar. Acompanhei semanalmente da estreia até sua finalização, e foi uma experiência que me fez pensar bastante. Nesse mangá, uma criatura transcendental "sem sentimentos" e que se alimenta de humanos decide que suas refeições normais já não têm mais graça, e então bola um plano para ter a refeição suprema: criar 3 crianças órfãs, as alimentando e criando com tudo que consegue, para, quando a hora certa chegar, ter a melhor refeição de sua vida.
Eu acho que um gibi com essa premissa tinha muito pra dar errado. Ele podia se perder em um poço de "edgy" e ficar risível, podia também se tornar uma história melodramática e piegas sobre o monstro sendo dobrado pelo amor das crianças, mas foge dos dois com uma maestria surpreendente. As crianças não confiam no Yattara, o Yattara passa MUITO tempo aprimorando seu plano, e sua forma de pensar não é em nenhum momento flanderizada pelo autor, muito pelo contrário, é um personagem bastante consistente e único.
É uma leitura que não vai muito longe fora da relação que eu desenvolvi acima, e quando tentou fazer isso não me convenceu muito, mas, o tamanho reduzido ajudou a manter as coisas frescas e a finalização foi bastante satisfatória. Tá aí uma leitura que acredito ser interessante pra repertório e um autor que quero ver voltando.
Fullmetal Alchemist (2001 a 2010 - 27 Volumes - Shounen Gangan)
Tem gente que tem até um piripaque quando o nome desse mangá é mencionado. Queridinho de muitos, Fullmetal é um clássico de seu gênero, com nada mais nada menos que duas adaptações em anime e uma infinidade de produtos e jogos dentro do que se tornou uma franquia. Eu recentemente tô nessa de ler mangás que "todo mundo já leu" e eu ainda não tinha dado a chance, e Fullmetal foi o próximo de minha lista. Eu assisti o anime antigo uns bons anos atrás, na época das Fansubs de legenda colorida e dos sites com dublagem de anime em 240p e com a logo da emissora onde foi originalmente exibida do lado. Eram bons tempos, sabia?
Mas, o mangá eu nunca tinha lido. E gostei. É uma história incrivelmente redondinha, onde tudo parece se encaixar extremamente bem, e que tem personagens bastante divertidos. Algumas das sacadas da autora são dignas de ficar de queixo caído, percebe-se que Fullmetal Alchemist é aquele tipo de mangá onde paixão foi derramada em FORTES porções em cada um dos mínimos detalhes. Senti isso bem na sequência da guerra de Ishball, sobre a qual a própria autora afirmou ter estudado extensivamente a respeito de dinâmicas de guerra para escrever da forma mais respeitosa possível. Também sou apaixonado pelos extras, que são extremamente engraçados e me faziam rolar de rir as vezes, tiveram vários volumes em que eu tava gostando mais deles do que da própria história.
Sinceramente, se eu falar que coloco a obra em um pódio ou que é uma de minhas favoritas, eu tô mentindo. Ele é legal, mas pra mim não chega a ser um dos melhores Battle-Shounens que já li, e nem sequer é o tipo de shounenzinho que eu mais aprecio, se for ser sincero, já que eu sou muito mais dos exageros e da palhaçada (não que ambos não estejam presentes em Fullmetal, mas você entendeu). Só que isso não chega nem perto de ser uma crítica, é só uma observação mesmo. Eu recomendo essa leitura pra qualquer um.
Kaedegami (2025 - 2 Volumes - Weekly Shounen Jump)
Esse mês foi temporada de cancelamentos na Jump, então vai ser natural que alguns deles acabem brotando nesse texto. Nem pretendo me estender muito nesses casos, já que quem me acompanha em outras redes sabe que toda semana eu analiso essa revista, e que no caso de encerramentos sempre costumo fazer uma análise completa. Inclusive, fica aqui o convite pra acompanhar minhas "Threads Semanais da Jump", disponíveis no Twitter e no Bluesky. Em ambas as redes, você me encontra como "@LucasSilvaSva".
Kaedegami é um mangá bonito, que fala sobre paixão e sobre relações entre seres com natureza diferente, mas que de uma forma ou de outra podem se entender se um laço realmente forte existir. O que pegou ele mesmo foi o fato de se propor a fazer combates e entregar coreografias de luta extremamente fracas. Em um ambiente matador como a Jump, isso foi suicídio. Mas vou me lembrar positivamente dele, espero que a autora tenha a chance de tentar novamente.
Waiting for the Sunlight (2025 - 2 Volumes - Jump+)
Mangás históricos são bons demais, né não? Principalmente quando mostram as coisas sob uma ótica na qual a gente ainda não havia pensado. Em "Waiting for the Sunlight", pelo ponto de vista de uma menininha, observamos uma fábrica de cerâmica sendo obrigada a se transformar em produtora de armas de guerra (de forma bastante criativa, diga-se de passagem) para sobreviver em um Japão já sendo completamente devastado pelas tropas americanas.
Como obra curtinha, foi uma oportunidade de conhecer mais fatos interessantes sobre a segunda guerra, já que o mangá contava com consultores históricos e até consultores de cerâmica. Para além das curiosidades, foi um mangá divertido e que até que tratou os temas com bastante leveza, sem em nenhum momento desrespeitar memórias de um momento traumático. Parando pra pensar, esse mês eu praticamente só terminei de ler coisa boa.
Ekiden Bros (2025 - 2 Volumes - Weekly Shounen Jump)
Não foi por acaso que eu terminei o parágrafo anterior com um "praticamente". Ser leitor de mangá e só ler coisa boa é tipo ir assistir um Vasco X Flamengo em São Januário e não cair na porrada na saída do estádio. É mais saudável pra você? Com certeza, mas você perde experiências intrínsecas e transcendentais para a espécie humana.
Não briguem em estádio!!!!
Enfim, Ekiden é uma maratona japonesa bastante parecida com um revezamento clássico, com algumas nuances específicas nas quais o mangá não faz questão nenhuma de entrar. A obra é mais um dos cancelados da Jump, e, não é muito difícil entender como isso deu errado. Além do tema ser absurdamente impopular, a obra era lotada de escrita fraca e viciada em introduzir um monte de personagens dos quais ninguém se lembrava. Eu terminei sabendo só o nome do protagonista, e olhe lá! E a parte mais inacreditável é que meus amigos lá da Pneu Scans traduziram essa bomba inteira pro português.
Um dia terei toda essa dedicação ao game!!!
Astro Baby (2024 a 2025 - 4 Volumes - Jump+)
Sabe aquelas obras semanais que entram em hiato várias vezes, que se perdem absurdamente da metade pro meio, que você nem sabe mais por qual motivo tá lendo mas continua, que possuem uma estética de anos 50 extremamente interessante e que falam sobre bebês infectados por vírus de fora do nosso planeta?
Eu acho que eu deixei isso um pouco específico demais. Na minha cabeça tinha funcionado melhor, como costuma ser com muita coisa na minha vida.
Mas fazer o que, é isso que eu penso de Astro Baby. Durou mais de um ano em um lenga-lenga absurdo, e no fim do dia meu único elogio consistente a ele é a estética e o fato de que ele foi publicado ao lado de muitos que estavam fazendo pior, o que, acredite, não é nem de perto um grande mérito. Ao menos não é uma leitura terrível nem de longe, shounenzinho honesto e que dá pra passar o tempo, mas não muito mais que isso.
Amano Megumi wa Suki Darake (2015 a 2021 - 28 Volumes - Weekly Shounen Sunday)
Eu sou bastante fã de Ecchis, principalmente os da demografia Shounen, que são pra mim os mais divertidos e leves, sem perder o erotismo que é necessário pra dar o tempero da parada. Amano Megumi é um bom exemplo disso, mangá leve, bem desenhado, com Ecchi de qualidade e que passa voando mesmo com seu tamanho consideravelmente longo e com pouca progressão na história se formos analisar de forma ortodoxa.
Comecei essa leitura no início do ano, por influência do mangá anterior do autor, que foi infelizmente cancelado só com 50 capítulos e eu curtia demais. Para Amano Megumi, ia pegando pra ler de vez em quando conforme me dava vontade de dar uma quebrada em outras atividades mais densas. Vou te falar, ele faz esse papel com maestria, de verdade. As caras e bocas do Nekoguchi são sensacionais, e as dinâmicas entre os diferentes núcleos da obra são dignas de um novelão bem feito, só que sem melodrama desnecessário, ao menos na maioria do tempo.
Como cria da escola To Love-Ru de mangás, me faz uma falta absurda ter leituras como Amano Megumi para me entreter semanalmente, principalmente dentro da Jump, que abandonou totalmente o gênero. Meu refúgio nesse sentido vem sendo a Shounen Magazine, que publica obras como "Yumene Connect" e "YowaYowa Sensei", ambas servindo muito bem pra ativar essa área específica de meu cérebro. Mas, enfim, sem sair do foco aqui. Recomendo a leitura!
Essa foi uma coletânea de comentários sobre as leituras que finalizei em Outubro de 2025, que ficou mais longa do que eu imaginei, mas que também tá com muito do que eu gostaria de falar sobre cada uma dessas peças de entretenimento japonês.
Minha penúltima postagem foi sobre um livro brasileiro do final de 1800, a última foi uma análise de Hack-Rom de Sonic e essa aqui é uma coletânea de comentários sobre mangá. Nos vemos por aí com mais aleatoriedades aqui no blog, conto com sua presença!
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